A sensação de um novo ano nos inspira a traçar novos planos para nossa vida. Talvez, nesse ano, você esteja cogitando fazer um concurso público. Antes de investir tempo e dinheiro nesse novo projeto, você precisa conhecer as vantagens e as desvantagens de uma carreira pública, afinal, será que concurso público é mesmo para você? Será que vale a pena?
Depois de mais 10 anos envolvido no mundo dos concursos públicos, posso te assegurar que concurso público não é a solução para todos os seus problemas. Infelizmente, muitas pessoas e empresas douram a pílula para te vender a ideia de que um emprego estável é sinônimo de felicidade e de manhãs de comerciais de margarina. Só que isso não é verdade. A decisão de estudar para concursos públicos só é adequada, caso esteja alinhada com suas ambições. Daí a importância de saber exatamente no que você está se metendo...
Vantagens
Primeiro, vamos falar das vantagens. Sim, a carreira pública oferece excelente vantagens:
Em regra, não exige experiência profissional prévia
Sabe aqueles requisitos mirabolantes do tipo: inglês fluente, certificação nisso e naquilo, experiência de 2 anos? Então, salvo exceções excepcionais, você não tem esse tipo de exigência em concursos públicos. Os requisitos básicos são: idade mínima de 18 anos, nacionalidade brasileira, quitação das obrigações militares e eleitorais e nível de escolaridade adequada ao cargo (pode ser nível médio ou nível superior).
A ausência de requisitos rigorosos de ingresso torna os concursos públicos uma excelente oportunidade para jovens inexperientes.
Forma de seleção é impessoal
Diversas pesquisas promovidas por agências de emprego já demonstraram que um número muito pequeno de vagas de emprego é aberto para o público externo das empresas. Algo perto de 10-20% das vagas apenas. Ou seja, 80-90% das vagas de emprego na iniciativa privada são preenchidas por meio de indicação. Na prática, isso significa que se você não tem uma boa rede de contatos ou um histórico profissional notável, provavelmente, terá problemas em conseguir boas ofertas de emprego.
Os concursos públicos são mais impessoais do que os métodos de seleção da iniciativa privada. A vaga é de quem tiver maior pontuação na prova e pronto. Não importa quem o candidato conhece ou qual seu nível de experiência prévia.
Salários iniciais altos
Os salários iniciais dos cargos públicos são sensivelmente mais altos do que aqueles pagos na iniciativa privada. Um técnico administrativo de uma Universidade Federal, por exemplo, ganha, em média, 4-6 salários-mínimos, enquanto na iniciativa privada sua remuneração dificilmente passará de 2 salários. Em casos específicos, essa diferença pode ser ainda maior. Um técnico administrativo de um tribunal federal, por exemplo, possui um salário inicial de 8-9 salários-mínimos.
Estabilidade de emprego
Uma das principais preocupações de qualquer chefe de família é a perda inesperada do emprego. Como manter as despesas familiares, se uma demissão inesperada acontecer? Pois bem. Na carreira pública, esse risco é muito menor. Os servidores públicos, uma vez aprovados no estágio probatório, possuem estabilidade, o que torna o seu vínculo muito mais seguro. É claro que você ainda pode ser demitido, caso faça alguma besteira (cometa um ato corrupção, por exemplo). Entretanto, salvo situações realmente excepcionais, você só deixará o emprego, se você quiser.
Acesso a carreiras especiais (policial, juiz, promotor)
Em algumas profissões, você necessariamente tem que passar por um concurso público. É o caso, por exemplo, da carreira policial. Você só conseguirá ser policial, caso seja aprovado em um concurso público. Não existe outro caminho. Você pode até buscar profissões congêneres na iniciativa privada como agente de segurança patrimonial ou segurança particular, porém policial mesmo apenas por meio de concurso público. Isso também ocorre com outras carreiras, tais como: delegado, juiz, promotor. Dessa forma, saiba que a depender do seu sonho profissional você não terá escolha. Você precisará ser aprovado em um concurso público.
Desvantagens
Como fiz questão de enfatizar desde o início, nem tudo são flores. Existem também desvantagens importantes dentro de uma carreira pública. Muitas dessas desvantagens podem até tornar a carreira pública desinteressante para você.
Aprovação em um concurso público exige um alto investimento de energia em estudo
Muitas pessoas gostam de atividades práticas ou se sentem desconfortáveis em ter que aprender novas matérias. Essas pessoas sentem-se muito frustradas com o investimento de energia necessário para a aprovação em um concurso público. Para essas pessoas, dificilmente estudar para concursos é uma boa ideia. Em geral, essas pessoas gastam uma grana preta em materiais e cursos e desistem em pouco tempo para se dedicar a uma carreira na iniciativa privada. Autoconhecimento é importante, por isso antes de gastar rios de dinheiro, tenha certeza de que conseguirá manter a disciplina necessária até ser aprovado. Do contrário, o melhor é nem começar.
Crescimento dentro de cada carreira pública é limitado
Uma vez aprovado em um concurso, saiba que suas possibilidades de crescer profissionalmente são reduzidas. Isso ocorre porque os concursos públicos são feitos para cargos específicos. Esses cargos possuem um conjunto de atribuições definidas em lei, o que torna difícil uma mudança muito drástica de atribuições ao longo da carreira. Salvo seja indicado para ocupar um cargo em comissão (assessor, chefe de setor etc), você fará atividades muito semelhantes ao longo de vários anos, o que pode tornar o trabalho enfadonho.
Em vista dessa desvantagem, é muito comum que muitas pessoas, ainda que já ocupem cargos públicos, continuem fazendo concursos em busca de novas oportunidades de trabalho. Isso torna o estudo e preparação para concursos uma condição duradora para todos aqueles que almejam subir dentro da estrutura organizacional do Estado.
Em organizações privadas, as possibilidades de mudança ao longo da carreira são substancialmente maiores. As mudanças podem ocorrer em sentido vertical (quando o empregado sobe na hierarquia da empresa) ou em sentido horizontal (quando assume novas atividades, sem ter um aumento no poder hierárquico). Assim, ainda que contratado inicialmente para atuar como técnico administrativo, por exemplo, o indivíduo pode, posteriormente, atuar com outras atividades, desde que demonstre capacidade para tanto.
Salários finais são limitados pelo teto constitucional
Embora os salários iniciais sejam altos, a carreira pública possui um teto de remuneração. Esse teto de remuneração depende do Poder ao qual o servidor está vinculado (Poder Judiciário, Poder Legislativo, Poder Executivo) e do ente federativo (União, Estado, Município ou Distrito Federal). O teto máximo do serviço público (aplicável para órgãos federais) é subsídio do Ministro do Supremo Tribunal Federal – STF (atualmente, R$ 39.200).
Não se engane achando que toda carreira pública permite que o servidor chegue perto desse teto. Não! Na prática, apenas um pequeno grupo de carreiras consegue chegar no teto constitucional. Algumas dessas carreiras são os juízes, promotores, auditores e delegados. As demais carreiras acabam tendo limites de remuneração muito mais baixos. Um técnico administrativo de uma prefeitura, por exemplo, dificilmente ganhará mais do que R$5.000, ainda que no final do plano de carreira.
Não é incomum que profissionais altamente capacitados desistam da carreira pública depois de vários anos por causa do teto constitucional. Depois de adquirir muita experiência profissional no serviço público e levantar capital suficiente, esses profissionais desligam-se do serviço público para empreender ou mesmo para atuar como profissionais liberais.
Enquanto os salários iniciais tornam a carreira pública prestigiada para profissionais em início de carreira, o teto constitucional limita a possibilidade de aumentos remuneratórios. Em resumo, você não será pobre financeiramente se optar por ser servidor público, mas também não será financeiramente rico.
Em organizações privadas, não existem tetos de remuneração. Em multinacionais, cargos estratégicos podem ter remunerações milionárias, ou seja, ganham mais de 30 vezes o teto constitucional. Evidentemente, não são todas as empresas nem todas as profissões que permitem uma remuneração tão substancial. Entretanto, com um plano de carreira bem traçado e desde que haja disponibilidade para mudanças de cidade e de atividade, um profissional da iniciativa privada pode superar o teto constitucional ao longo de sua trajetória profissional. Além disso, as novas profissões da internet (youtuber, gestor de tráfego, copywritter etc) permitem ganhos de escala substanciais, o que torna possível (ainda que difícil) que indivíduos ganhem centenas de milhares de reais por mês.
Conclusões
Gosto de reforçar que não existe um melhor certo a seguir. A carreira pública não é nem melhor nem pior que a carreira na iniciativa privada. São carreiras apenas diferentes que trazem algumas vantagens e desvantagens. Além disso, é sempre possível planejar migrações de carreira de acordo com o estágio de vida. Talvez, para um jovem sem experiência, um caminho possível seja iniciar pelo serviço público, enquanto conclui a faculdade e ganha repertório profissional. Com mais experiência e qualificação, esse jovem pode buscar cargos melhores na iniciativa privada. Repito: não existe certo ou errado.
A verdade é que as decisões sobre carreira vão se modificando ao longo da vida para atender as necessidades que vão surgindo. Em alguns momentos, remuneração pode ser o fator de escolha fundamental. Em outros momentos, estabilidade pode ser determinante. Em outros ainda, flexibilidade quanto ao horário de trabalho é o que se almeja....Enfim, são muitas variáveis que podem ser consideradas a depender das ambições profissionais. Não tenho dúvidas de que eu poderia elencar muitas outras vantagens e desvantagens, porém, pela minha experiência, esses são os pontos críticos a serem considerados por todos que estão realizando seus planos de carreira. E aí? O que você achou?
Se tiver mais dúvidas, pode encaminhá-las nos comentários.
Forte Abraço
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