O que você vai ser quando crescer?
É provável que em algum momento na sua vida você tenha enfrentado esse questionamento.
A preocupação de “encontrar” ou de “ter” uma vocação (chamado ocupacional) está cada vez mais presente nos discursos contemporâneos sobre trabalho e carreira (Lysova, Allan, Dik, Duffy, & Steger, 2019).
A partir da literatura científica, podemos afirmar que o chamado ocupacional consiste na percepção individual de significados subjetivos no trabalho, sendo o trabalho percebido como um propósito (Dik, & Duffy, 2009), uma paixão significativa (Dobrow, & Tosti-Kharas, 2011), um elemento central da identidade (Berg, Grant, & Johnson, 2010) e um desejo de tornar o mundo melhor (Lysova, Jansen, Khapova, Plomp, & Tims, 2018;Dik, & Duffy, 2009)
De modo geral, a prática empresarial tem enxergado os chamados ocupacionais como algo que confere maior engajamento no trabalho (May, Gilson, & Harter, 2004), maior percepção de sucesso psicológico (Hall, & Chandler, 2005), maior proatividade na carreira (Dobrow, & Tosti-Kharas, 2011) e maior satisfação no trabalho e com a vida em geral (Peterson, Park, & Seligman, 2009). Com disso, pessoas esperam cada vez mais que suas ocupações proporcionem realização de valores pessoais, de significado e propósito (Berg, Grant, & Johnson, 2010). Da mesma forma, as organizações buscam cada vez mais promover um trabalho significativo e crucial para envolver seus funcionários (Lysova, Allan, Dik, Duffy, & Steger, 2019).
Diante de tantas expectativas benéficas quanto ao chamado ocupacional, seria plausível sugerir que políticas de promoção de significado no trabalho poderiam também trazer consequências negativas?
Estudos recentes sugerem que SIM!
Berg, Grant, & Johnson (2010) destacam que condições estruturais podem impossibilitar que o indivíduo atenda ao seu “verdadeiro chamado”, o que torna o chamado ocupacional uma fonte potencial de mal-estar psicológico, frustração, decepção e arrependimento.
Além disso, pessoas com forte chamado ocupacional estão mais sujeitas à exploração pela administração (Bunderson & Thompson, 2009; Dobrow, & Tosti-Kharas, 2011), o que as torna mais propensas à estafa mental e síndrome de burnout quando conseguem atender o chamado ocupacional. (Hirshi, Keller, & Spurk, 2019).
Compreender os riscos inerentes ao discurso contemporâneo sobre vocação é importante, pois permite que cada um de nós consiga impor limites às próprias atitudes.
Não há dúvidas que reconhecer o trabalho como elemento da nossa própria identidade é realizador e satisfatório. O sonho e a capacidade de ser um policial, um jogador de futebol, um juiz, professor tem sim muito valor para o sucesso psicológico de cada indivíduo.
Apenas não podemos esquecer que , sejam ou não esses sonhos concretizados, a vida humana não se resume a um cargo, um emprego ou um contracheque.
Equilíbrio parece ser a palavra-chave.
Comments