Uma das teorias mais influentes e disseminadas de Administração é a Teoria Cognitiva Social. Trata-se de uma teoria relativamente antiga (meados da década 1980), porém permanece ainda muito presente nos discursos de muitos palestrantes.
Segundo essa teoria, o desempenho e a motivação de um indivíduo são governados por vários mecanismos autorregulatórios que operam juntos.
De uma forma mais simples: existem diversos mecanismos intrínsecos (dentro da gente) que regulam nosso comportamento. Na maioria das vezes, sequer damos conta de sua existência, porém eles continuam a influenciar a maneira como percebemos o mundo e como lidamos com ele.
"Ora Marcelo, mas que mecanismos seriam esses?"
Desvendar e prever o comportamento humano é extremamente complexo. Os modelos psicométricos mais sofisticados conseguem prever, quando muito, apenas 15 a 20% do comportamento humano. Entretanto, muitas pesquisas e estudos sugerem que a percepção de autoeficácia é um dos principais mecanismos de regulação do comportamento.
A autoeficácia, segundo Wood, & Bandura (1989), diz respeito às crenças das pessoas em suas capacidades de mobilizar motivação, recursos cognitivos e cursos de ação para exercer controle sobre os eventos de sua vida. Em outras palavras e simplificando, pessoas com mais alta percepção de autoeficácia são pessoas que acreditam que possuem um maior controle sobre a própria vida, ou seja, são pessoas que confiam nas próprias competências.
Eu sei que esse papinho de "acredite em você mesmo" tornou-se muito clichê nos últimos anos em vista da popularização e vulgarização dos processos de Mentoria e Coach.
Entretanto, vencida a justa e merecida desconfiança, os resultados de pesquisas científicas realmente sugerem que indivíduos com maior percepção de autoeficácia (mais confiantes em suas própria habilidades) estão mais propensos a considerar opções de carreira mais desafiadoras e a se preparar melhor educacionalmente para diferentes atividades ocupacionais.
Em resumo: faz bem confiar no próprio taco.
Nesse contexto, uma pergunta torna-se inevitável: como aumentar os níveis de percepção de autoeficácia? Ou em bom português: como se sentir mais capaz?
No clássico artigo científico "Social cognitive theory of organizational management", Robert Wood descreve quatro maneira principais:
1) Experiência em superar adversidades
Segundo Wood, a maneira mais eficaz de aumentar a percepção de autoeficácia é obtendo sucesso em projetos prévios. Quanto mais projetos bem-sucedidos um indivíduo realiza, maior a crença que ele possui em si de realizar projetos ainda mais desafiadores.
Essa maneira de desenvolver a percepção de autoeficácia, no entanto, guarda uma armadilha. Caso as pessoas apenas experimentem sucessos fáceis, elas se habituam a obter resultados rápidos e tendem, portanto, a se sentirem desencorajadas a assumir projetos que exijam um esforço perseverante.
Nas palavras de Wood: "Alguns contratempos e dificuldades nas atividades humanas servem a um propósito útil ao ensinar que o sucesso geralmente requer esforço contínuo."
Nas minhas palavras: dificuldades fazem a gente ficar casca grossa.
2) Modelagem de crenças
Modelos mentais proficientes criam autocrenças de capacidade. Mudar a forma de pensar, no entanto, não é algo trivial. Uma maneira eficaz, segundo Wood, é por meio do processo de comparação social.
As pessoas julgam parcialmente suas capacidades em comparação a de outras pessoas. Assim, quando observamos pessoas semelhantes a nós sendo bem-sucedidas em razão de um esforço contínuo, acreditamos que também somos capazes.
Deixando mais claro: imagine que Maria é mãe de quatro filhos e pobre. Maria talvez sinta-se incapaz de passar em um concurso público. Entretanto, caso Maria veja que Paula em condição semelhante passou, é provável que Maria se sinta mais capaz de passar.
3) Persuasão social
Aqui entra o papel de um verdadeiro mentor ou coach. Quando estimulados por incentivos realistas, as pessoas tendem a exercer um maior esforço quando comparadas a pessoas que não receberam incentivos. Entretanto, caso as expectativas sejam elevadas a níveis irreais, corre-se o risco de que as falhas minem a percepção de autoeficácia do indivíduo.
Assim, mentores de sucesso não se preocupam apenas em dar avaliações positivas, mas, principalmente, em atribuir tarefas adequadas àquele momento, evitando colocar os indivíduos prematuramente em situações nas quais eles provavelmente falharão.
Para que haja progresso no desenvolvimento pessoal, o sucesso deve ser medido em termos de autoaperfeiçoamento e não através de triunfo sobre os outros.
4) Alteração dos estados fisiológicos
As pessoas confiam em parte nos julgamentos de seus estados fisiológicos quando avaliam suas capacidades. Em outras palavras, considerando um desempenho igual, uma pessoa que esteja tensa ou cansada tende a avaliar o próprio desempenho de maneira mais negativa do que uma pessoa relaxada e tranquila.
Assim, para aumentar a percepção de autoeficácia, o indivíduo deve controlar os níveis de estresse e atentar também para o status físico (dor, fadiga, etc).
Compreender como esses mecanismos funcionam é interessante, pois permite que consigamos, até certo ponto, moldar o nosso próprio comportamento.
Se você está começando um projeto agora, que tal começar como metas menores para ganhar experiência em superar adversidades?
Se não está se sentindo capaz de realizar algo, que tal pesquisar sobre pessoas que fizeram aquilo que você almeja?
Se está diante de uma grande decisão, que tal descansar um pouco a cabeça em vez de decidir algo quando está cansado ou com dor?
A verdade é que, em geral, somos menos racionais do que julgamos ser e tendemos a subestimar a influência de aspectos intrínsecos no nosso comportamento. Entretanto, sabendo cada vez mais como tudo acontece podemos usar esses mecanismos intrínsecos cada vez mais a nosso favor.
É um post mais sério, porém espero que tenha gostado.
Forte Abraço
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